Ele simplesmente não a suportava... bastava uma única palavra, mesmo que fosse pertinente, vinda dela e desencadeava nele toda a repulsão e agressividade educada com que a repelia e a castigava.
Toda vez que saia de casa e teria de dar aquela aula onde sabia que iria encontrá-la já causava toda a irritação e o planejamento insólito sobre como iria responder as perguntas impertinentes dela e que tomava toda a sua mente durante o longo trajeto até a escola.
Adorava castigá-la, por isso passava todo o tempo atento ao que ela fazia e dizia... pronto para mandá-la para a diretoria. Ela parecia não se importar com aquela perseguição insana... estava sempre lá, atenta, com suas perguntas que o obrigavam a ir muito além do que tinha planejado ensinar; outros achariam que era um desafio interessante para que buscasse aprimorar seus conhecimentos de mestre, mas para ele era o cúmulo do desaforo...e pior ainda porque ele era afetado por essas pequenas situações diárias.
Um dia entrou na sala de aula e buscou-a com o olhar para pegá-la em algum ato que propiciasse desfazer-se dela enviando-a para a diretoria... e não a encontrou. Achou que estivesse atrasada... mas ele nunca se atrasava; achou que estivesse doente, mas nunca ficara doente...
Começou a aula aliviado por poder seguir exatamente aquilo a que se propunha sem interferências que o obrigassem a se estender para assuntos correlatos. Achou estranho, a aula corria tranqüila... tranqüila demais. Queria perguntar para alguém onde ela estava, por que não viera, mas seu orgulho o impedia...
Retornou a sua casa como movido apenas por instinto, fazendo o caminho como um robô.
No dia seguinte, andou até a escola com a cabeça vazia... não sabia o que pensar, o que esperar...foi só a ausência de um dia, pensou, hoje tudo retorna ao normal.
Mas quando percebeu a carteira vazia novamente... algo aconteceu dentro dele: não pensou mais no orgulho ou seja lá o que for, perguntou por ela. E uma aluna sorridente lhe disse que ela não voltaria mais, nunca mais... tinha ido embora do país, estudar na Europa.
Deveria ter sentido alivio... mas o que sentiu foi o chão sumir sob seus pés; deveria estar feliz...mas estava morto por dentro; o que sempre desejara tinha acontecido...mas não sentiu a alegria que pensara sentir. Como faria daí em diante? Como voltaria para seu plano de aula sucinto sem as ousadas intervenções que tanto o irritaram?
Tinha de continuar... mas sabia que havia lacrado para sempre uma parte de si mesmo...talvez a parte mais bonita!
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